Sílaba Kalachakra

Sílaba Kalachakra

Lama Dolpopa e a Base do Budismo Shentong

Lama Dolpopa foi do Nepal (da região de Dolpo) para o mosteiro Jonang no Tibete, onde encontrou seu guru raiz, quando tinha 30 anos. Recebeu transmissões da linhagem mahayana Yogacara da Índia (que não deve ser confundida com o budismo cittamatra), dos sutras Thatagatagarbha e do texto Uttaratantra do bodhisattava Maitreya (ambos com a ênfase na natureza-buddha) e do tantra Kalachakra (que trata do Adi-Buddha, o elemento uno primordial).

Dolpopa Sherab Gyaltsen

Os sutras Thatagatagarbha são do século III e a escola Yogacara e o tratado Uttaratantra são do século IV. O tantra Kalachakra é uma tradição do colégio interno do Dharma que chegou ao Tibete pela escola Kadampa e depois no núcleo original da escola Sakya, cuja transmissão através de Sakya Pandit e Phagspa Lodro chegou até o guru de Dolpopa. Esta é a base central para o budismo ‘shentong’ que apresenta o tema da ‘natureza-buddha’ e o ‘Vazio de Outro’ como o ensinamento fundamental jonang.

 Dolpopa também foi instruído no Abhisamayalankara (de Maitreya) que aborda bodhicitta (a compaixão superior) e as seis paramitas (virtudes), no tratado “Guia para o Modo de Vida dos Bodhisattvas” de Shantideva e nos textos da tradição Lojong (com a questão de bodhicitta e as paramitas).
Ele escreveu comentários aos sutras Tathagatagarbha, aos tratados da escola Yogacara (e em especial ao Uttaratantra), ao Kalachakra Tantra, a Shantideva e aos textos Lojong.

Shantideva - autor do Guia do Estilo de Vida do Bodhisattva, um dos mais importantes textos do Budismo Mahayana.  


No seu “Comentário geral ao Dharma”, Dolpopa disse:

                O tantra último é o Kalachakra.
                O sistema filosófico último é Shentong.
                A conduta última é mahakaruna [a grande compaixão].
                A senda última é Sadangayoga [as 6 Yogas Kalachakra].
                O mahayana último é o veículo da Natureza-Buddha.

Nessa passagem fica bem clara a importância que ele dá ao tema de bodhicitta ou mahakaruna (destacado pelo Abhisamayalankra, Shantideva e obras sobre Lojong), ao tantra Kalachakra e a filosofia Shentong. Seu ensinamento sobre a filosofia Shentong foi estabelecido especialmente em três obras: Montanha do Dharma, O Quarto Concílio e Auto-comentário ao Quarto Concílio. Estes dois últimos textos foram escritos entre 1352-1355, quando lama Dampa, que era o líder da escola Sakya, foi para Jonang receber instruções de Dolpopa.

No ‘Quarto Concílio’ ele realça que é necessário distinguir o ‘vazio de natureza própria’ (Sunya) e o ‘vazio de Outro’. A partir dos sutras Tathagatagarbha e do Uttaratantra estabelece que ‘ Natureza-Buddha’ (o eterno Dharmakaya presente em todos os seres) é uma realidade existente além do ‘vazio’ (Sunya).

A Natureza-Buddha é Dharmata, a verdadeira natureza da realidade, permanente e estável. Mas isto não é a equivocada visão kagyu-nyingma sobre o tema, que toma a visão cittamatra (que tudo é apenas mente) como sendo a genuína filosofia Yogacara apresentada por Asanga – Vasubandhu – Sthiramati e tão importante para Dolpopa consolidar seu ensinamento sobre Shentong.

Texto de Alberto Brum, 2016.